domingo, 27 de setembro de 2015

Prenúncio de Outono


Canção de Outono

No entardecer da terra
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
As folhas, e volve, e revolve,
E esvai-se inda outra vez.
Mas a folha não repousa,
E o vento lívido volve
E expira na lividez.

Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E até do que hoje sou
Amanhã direi, Quem dera
Volver a sê-lo!... Mais frio
O vento vago voltou.

Fernando Pessoa
Pág.15, Vol. 2,  Obra Essencial de Fernando Pessoa


                                                                               
 
 

20 comentários:

  1. Tão demoledor às vezes Pessoa! Feliz outono para ti. Beijinho

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  2. E há um " ENTENDIDO " que diz que Pessoa não era POETA !

    Um beijo, Isabel.

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    1. Então segundo esse ENTENDIDO (que não sei quem é, mas fico curiosa...) o que é que ele era?!

      Um beijinho:)

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    2. Metendo o bedelho... um triste?... ;-P

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  3. Belos, poema e imagem.

    Boa semana, Isabel. :) Bj

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    1. Muito obrigada...duplamente!

      Uma boa semana também para ti:)

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  4. Um duo perfeito - o poema e a sua foto.

    Um beijinho

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    1. Muito obrigada, Miss Smile:) a foto tirei-a hoje, que ainda não tinha tirado nenhuma com cheiro de Outono...

      Beijinhos:)

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  5. Um post maravilhoso, Isabel!
    E às vezes, é preciso morrer por dentro... para nascer de novo!
    Acho que Pessoa, deverá ter seguido muito este processo... quando criava cada novo heterónimo...
    Beijinhos! Boa semana... que o Outono esteja lá fora... e que nós saibamos trazer a Primavera... cá por dentro!
    Ana

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    1. Muito obrigada, Ana:)

      Bonitas palavras as suas! Pois que assim seja:)

      Beijinhos:)

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  6. Olá!!!! Aqui estou de volta e com o problema do anti-vírus (do Manuel) resolvido!
    Este Pessoa diz coisas bonitas... E terríveis!
    "Eu já não sou quem era;
    O que eu sonhei, morri-o;
    E até do que hoje sou
    Amanhã direi, Quem dera
    Volver a sê-lo!... Mais frio
    O vento vago voltou."
    E eu digo :
    eu sou quem era...
    mas o frio o vento vago soltou, sim...
    Beijinhos

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    1. Ainda bem que o problema já está resolvido, pois já sentia a sua falta e dos seus post:)

      O Fernando Pessoa consegue colocar em palavras muito do que sentimos, mas não sabemos dizer (eu sinto assim).

      É muito bonito este poema!

      Voltou o Outono, ainda tímido, mas já se faz anunciar!

      Um beijinho:)

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  7. Isabel, ainda não seguiu hoje o postal prometido: não culpa minha que tentei, mas destes sítios onde não há marcos do correio! Nem caixas do correio, nem nada!
    Segue amanhã...

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    1. Por acaso, já reparei nisso: antigamente viam-se mais marcos e caixas de correio; hoje em dia vêem-se muito menos. Devem tê-los tirado de alguns locais, vá-se lá saber porquê!

      Mas não faz mal, que ele há-de chegar... :)
      Um beijinho e uma boa noite:)

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  8. Um Pessoa outonal em pessoa
    O vento teimoso não perdoa
    na flagelação do verde até que doa

    Será assim que o Pessoa sentiu Fernando.

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