quinta-feira, 29 de setembro de 2011

na hora de pôr a mesa

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


Retirado de A Criança em Ruínas, José Luís Peixoto, pág.13
edições quasi




Gaspar David Friedrich, Mulher à janela

                                                                                       

4 comentários:

  1. Tenho saudades do tempo, em que éramos 5.
    Mas acho que deixámos há muito de ser 5.

    Um beijnho

    Blue

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  2. "Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra" - Charlie Chaplin

    Sabes Blue, como diz Luís Peixoto, nunca deixamos de ser aquele número, enquanto um de nós estiver vivo.

    Um beijinho

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  3. Tão bonito e triste ao mesmo tempo...

    Mas faz todo o sentido. Aqueles que amamos estão sempre presentes nas n/ vidas. Quer já tenham morrido ou apenas estejam longe geograficamente!!

    Desconhecia.

    Cumprimentos,

    Cláudia

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  4. Boa tarde Cláudia
    também penso que sim, e embora nos custe a partida e a distância, as pessoas estão presentes e no coração.

    Eu gosto do José Luís Peixoto
    Um beijinho e obrigada pela visita

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