sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O resto é silêncio (que resto?)


Volto, pois, a casa. Mas a casa,
a existência, não são coisas que li?
E o que encontrarei
se não o que deixo: palavras?

Eu, isto é, palavras falando,
e falando me perdendo
entre estando e sendo.
Alguma vez, quando

havia começo
e não inércia,
quando era cedo
e não parecia,

as minhas palavras puderam estar
onde sempre estiveram:
no apavorado lugar
onde sou silêncio.


Manuel António Pina, Todas as Palavras, poesia reunida, pág.275
Assírio & Alvim



                                                                               

8 comentários:

  1. Cada vez o silêncio me incomoda menos...
    Também é uma aprendizagem!
    E, diz-se tanto...

    "Volto, pois, a casa".

    Isabel, a última vez que estive com o Manuel António Pina, foi aqui no Porto, no Teatro Sá da Bandeira, na apresentação da peça "A Acácia Vermelha", do nosso amigo Manuel Poppe, onde este também estava presente.

    Bonita homenagem!

    Um beijinho.

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    1. Eu gosto do silêncio. Até preciso dele às vezes.

      Lembro-me quando foi essa apresentação da "A Acácia Vermelha" (tive tanta pena de não ver). Então conheceu pessoalmente Manuel António Pina?

      O país ficou um bocadinho mais pobre.
      Mas a poesia continua!

      Um beijinho e bom fim-de-semana

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  2. Gosto especialmente destes versos:
    ..."Alguma vez, quando

    havia começo
    e não inércia,
    quando era cedo
    e não parecia,"

    São muito bons, para mim, embora eu não me mova nessa onda de negativismo. Já nã, acho inútil...
    Beijinhos muito grandes

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    1. Olá Maria
      já percebi que tu és uma pessoa positiva.
      Eu também não gosto "dessa onda de negativismo", mas isso não nos impede de apreciar boa poesia, mesmo que às vezes seja triste.

      Concordo contigo: o negativismo é inútil. A vida passa demasiado depressa para perdermos tempo com coisas negativas.
      Sempre que possível, fujo delas.

      Um beijinho grande e bom finde.

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  3. Olá Isabel,
    A vida é mesmo assim, com chegadas e partidas, partem os obreiros, artistas, actores e autores do cenário da vida mas as suas obras ficam para serem seguidas pelos que chegam.
    Homenagem bem merecida.
    Um beijinho

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    1. Pois é Maria Eduardo, ficam as obras que não deixam morrer os seus autores.
      Um beijinho e bom domingo

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  4. Mais um poema belíssimo desse que não será esquecido, tenho certeza.

    bjs - bela homenagem

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