sábado, 5 de janeiro de 2013

Contrastes


Contrastes

Coroas, sólios, reis, tudo comédia!
Régios mantos não são mais do que trapos,
Que o tempo há-de romper.

Como os nobres feudais da idade média,
Os reis verão a púrpura em farrapos,
Em nada o seu poder.

Enquanto vós, os grandes, os senhores,
Vos recostais , inúteis, indolentes,
Em plácidos coxins,
E caminhais alegres sobre flores,
Descuidados, vivendo em permanentes
E ruidosos festins;

Outros sem pão, sem casa e sem futuro,
- Párias errantes que a desgraça esmaga,
Esquecidos de Deus, -
Vão seguindo com passo mal seguro
A senda que o destino em hora aziaga
Cobriu de espessos véus!


Mariana Angélica de Andrade

Retirado de Antologia da Poesia Feminina Portuguesa, António Salvado, pág.133
Edições JF
                                                                                                                                                     

14 comentários:

  1. Pesados CONTRASTES !
    Nem dá idéia de ser de uma poetisa...

    ( Nunca tinha ouvido o termo SÓLIO...Agora, já sei ! Obrigado, Isabel ).

    Um beijo.

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    1. São pesados, mas parece que ainda actuais.
      Também não conhecia o termo e não conhecia a poetisa.
      Conheço sim e gosto muito do poeta que fez a Antologia.

      Um beijinho e bom domingo de sol

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  2. Olá Isabel,

    "Outros sem pão, sem casa e sem futuro"...dizes bem. Não há sólios para estes:)

    Beijinho
    (A verificação de palavras só atrapalha)

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    1. Não sou eu que digo, mas faço minhas as palavras.
      Contrastes, injustiças, desigualdades...às vezes parece que o mundo não mudou assim tanto. A poetisa nasceu em 1840.

      Um beijinho, JP e uma boa semana

      (pois...essa verificação de palavras...)

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  3. Gostei muito destes contrastes. Não conhecia a poetisa.
    Parabéns pela postagem no dia de Reis.
    Grata.
    Mas não sei, Isabel, se não precisávamos cá de um REI!:))))
    Beijinhos. :)

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    1. Obrigada Ana
      Calhou hoje, porque para ser sincera, quando coloquei o poema nem me lembrei do Dia de Reis.

      Ana, Rei ou Presidente o que era preciso era alguém que amasse verdadeiramente o país e quisesse o bem de todos os portugueses! Infelizmente não é isso que conta para quem (des)governa!

      Um beijinho

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  4. Forte, sem agrados fantásticos, reais e as vezes feias as idéias, mas elas o são de verdade. È feia essa situação que pelo contraste se faz tão marcante.

    muito bom, adorei ler isso, me sinto menos louca, mais real, afinal, tudo isso realmente existe.

    bjs meus

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    1. Infelizmente existe, mas um dia as coisas terão que mudar!

      Beijinhos amigos

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  5. Olá Isabel,

    Também não conhecia esta poetisa. Um poema muito oportuno. De facto, a palavra pode ser uma arma.

    Bom dia de Reis, Isabel e um bom domingo.

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    1. Nasceu em 1840 na aldeia de Casa Branca, no Alentejo e faleceu em 1882. Diz aqui no mesmo livro de onde tirei o poema(comprei há pouco tempo na Lumière, da minha amiga Cláudia, que já deve ter "visto" por aqui).
      O livro tem mais uns poemas dela muito bonitos, que ainda vou colocar no blogue.

      É interessante, como o poema continua bem actual.

      Um beijinho e boa semana

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  6. Gosrei muito, são versos com muita força, cheguei a pensar que eram de Camões!
    Que tenhas uma feliz semana ( e que a desgraça não nos esmague nunca como aos " esquecidos de Deus"!)
    Um beijinho

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    1. Os poemas dela que estão na Antologia são muito bonitos. Vou aqui colocar mais.

      Ai Maria, pois claro! Que a desgraça não nos esmague nunca. Verdade verdadinha, ninguém está livre de um dia a vida mudar. Mas deixemo-nos de coisas tristes!

      Boa noite!
      Boa semana!
      Um beijinho

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  7. Olá Isabel,
    Não conhecia este poema sobre "Contrastes"... muito adequado ao momento que atravessamos. Os esquecidos de Deus, sem pão, sem casa e sem futuro terão que seguir o seu caminho inseguro e coberto de espessos véus... mas vamos ter esperança que o Salvador nos venha salvar...
    Um beijinho e Fé em Deus (como se costuma dizer).
    maria eduardo

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    1. Pois é Maria Eduardo! Fé em Deus, porque nos políticos...acabou-se há muito!

      Este poema é bonito.

      Um beijinho, Maria Eduardo

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