segunda-feira, 23 de março de 2015

Alice


Fui ver O Meu Nome é Alice.
Gostei imenso do filme.
É assustador pensar que a vida pode mudar completamente, de um dia para o outro...

                                                                       

 
 
Uma arte
 
A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias da intenção
de se perderem que a sua perda não é uma calamidade.
 
Perder qualquer coisa todos os dias. Aceitar a agitação
de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar.
 
Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava
viajar. Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.
 
Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou
a penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar.
 
Perdi duas cidades encantadoras. E, mais vastos ainda,
reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto falta deles, mas não foi calamidade.
 
- Mesmo o perder-te ( a voz trocista, um gesto
que amo) não foi diferente disso. É evidente
que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (Toma nota!) uma calamidade.
 
Elizabeth Bishop
Geografia III, pág.63
Relógio D'Água



Carpe Diem


                                                                                   


( As fotos foram tiradas na exposição Ver Simplesmente de Tomás Monteiro )    
 
                                                                          

25 comentários:

  1. O filme, não o vi ainda, mas o poema de Elizabeth Bishop, que transcreve, já o traduzi, em tempos (5/2/2011).
    Bom dia!

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    1. Gostei imenso do filme e há uma parte onde a protagonista faz um discurso muito comovente, em que faz referência a este poema. Por acaso também já o tenho aqui no blogue. Coloquei-o em 2011, também.
      Vou ver no seu blogue. Já uma vez recebi uma tradução, num mail, em que quase parecia um outro poema, era uma tradução muito diferente.

      Bom dia e obrigada:)

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    2. Já fui ver. Gosto muito mais da sua tradução que desta:)

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    3. Muito obrigado!..:-)
      Se não fosse dar incómodo, gostaria de saber quem fez esta tradução para a Relógio D'Água.

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    4. A tradução é de Maria de Lourdes Guimarães, e a edição é de Outubro de 2006.
      Bom dia:)

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    5. Muito obrigado.
      É pessoa que estimo, como tradutora, esposa do poeta e crítico Fernando Guimarães.

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    6. Ainda bem, mas mantenho a minha opinião: gostei mais de ler o poema traduzido pelo APS, que o outro.

      Continuação de uma boa noite:)

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  2. Gostei! A Arte de perder é maravilhosa! Já há uns anos que me preparei para perder coisas. Pessoas...nunca estamos preparados, claro!
    Beijos

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    1. Compreendo-a...porque eu acho que também. E não é só no sentido de perder, literalmente, pequenas coisa, mas perceber que o que realmente tem valor não é material. Claro que sou apegada às minhas coisas, aos meus livrinhos e não os quero perder, mas...tenho a noção de que tudo se pode perder e sobreviveria...
      Pessoas...é mais difícil, mas a verdade é que também sobrevivemos.

      Este poema é muito lindo e o filme também.

      Um beijinho grande:)

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  3. É um filme que também pretendo ver...

    Um beijinho.:))

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    1. É muito bonito.
      Fala duma realidade dolorosa, mas que existe.
      Depois quando vir, diga o que achou...

      Um beijinho e continuação de boa semana:)

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  4. Não sei se tenho coragem para ver esse filme. Uma realidade que me passou perto e que me marcou.
    Não conhecia o poema e gostei muito.

    beijinho

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    1. O filme é muito bom, mas realmente cada pessoa vê-o à sua maneira. Quem lidou de perto com a doença talvez tenha mais dificuldade em o ver...
      Espero que não tenha sido com nenhum familiar seu.

      Um beijinho e continuação de boa semana, Fê :)

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    2. Foi o meu sogro e era muito triste vê-lo "desmoronar" dia a dia.

      beijinho

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    3. Lamento, imagino que deve ter sido difícil. Pelo que conheço, sei que acaba por ser mais difícil para os familiares, que para o doente, que deixar de ter a noção das coisas. Deve ser uma doença com a qual é muito duro conviver.

      Um beijinho:)

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  5. Queria tanto ter visto este filme, mas não passou pelos cinemas daqui... :(
    Beijo

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    1. Já me disseram que se pode ver na Net...não sei, porque não sei como funciona. De qualquer maneira não deve demorar muito até estar em vídeo, se bem que vê-lo no grande ecrã é outra coisa!

      Um beijo :)

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  6. Tentarei ver o filme, confio no teu gosto.
    Perder é uma arte, porque se pode fazer bem ou mal. Envelhecer é uma arte, tudo o que é difícil, se conseguimos fazê--lo bem, é coisa de artistas (nós...).
    Outra coisa é ser poeta e dizer as coisas com arte, isso só está ao alcance duns poucos.
    Gosto muito de vir aqui, embora o tempo seja sempre escasso.
    Beijinho grande

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    1. Eu gostei muito, Maria, mas não sei se o meu gosto será igual ao teu...
      Várias pessoas da minha família vimos o filme: eu e uma das minhas irmãs gostamos muito, outra irmã e uma sobrinha, gostaram mais ou menos...como eu digo sempre, não há como ver e formarmos a nossa opinião. Espero que gostes, quando fores ver.

      Perder e envelhecer são artes, que nem todos conseguem gerir...

      Obrigada por gostares de vir aqui, já sabes que gosto muito de te ver cá. Tenho pena que andes tão ocupada, mas espero que seja com coisas boas:)

      Um beijinho grande:)

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  7. A vida é , pode-se dizer?, um exercício contabilistico: quando se perde ganha-se. O problema está na volubilidade de conceitos e cotações. E temos entranhada em nós uma matriz que não nós facilita a aceitação das coisas. A precaridade do ter é os nossos pés de barro.
    Bom tema, Isabel. Um convite à reflexão.

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    1. A precaridade do ter é na verdade os pés de barro de muito mundo, porque o ter ainda tem muito mais peso que o ser.
      Penso que a idade ajuda a desvanecer muitas dessas ideias que nos limitam. É uma das coisas boas da idade.
      Saber perder, saber envelhecer, é uma boa arte, que nos permite ser mais felizes.

      Obrigada pela visita.
      Uma boa tarde:)

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  8. Tenho andado um pouco arredada dos cinemas... é aquele filme protagonizado por Juliane Moore, que descobre sofrer de Alzeimer?...
    Deve ser super interessante... e ela é uma belíssima actriz. Entrou naquele filme baseado na obra de Saramago, Ensaio sobre a Cegueira... Espero não estar a trocar o nome da actriz...
    O poema é lindíssimo.
    Uma pessoa minha conhecida, já de uma certa idade, descobriu à pouco tempo, que também tem... e a mãe de uma amiga minha, também sofreu dessa doença.
    Acho que é uma doença, que faz mais sofrer quem está mais próximo dessas pessoas, do que os próprios doentes, que aos poucos deixam de ter consciência de que a têm, e nem sempre apresentam sintomas de sofrimento... mas é uma doença terrível, mesmo... sobretudo para quem assiste...
    Acho que ouvi há tempos num documentário, que a partir dos 80 anos, as hipóteses de se vir a sofrer dessa doença baixam abruptamente... porquê não sei... mas pelo menos haverá pessoas que nunca terão propensão para sofrer dela... acho que se deve a oxidação de uma proteína, responsável pelas ligações cerebrais.
    Beijos, Isabel!
    Ana

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    1. A actriz é a Juliane Moore, sim.
      Esta história conta o caso de Alzheimer precoce, creio que baseado numa história verdadeira.
      Pelo que tenho lido e ouvido, é isso mesmo, a partir de certa altura a pessoa doente deixa de ter consciência do que lhe está a acontecer e para quem assiste ao evoluir da doença, no familiar, com quem lida todos os dias, é muito doloroso.

      Oxalá esta doença nunca nos bata à porta.

      Beijinhos, boa sexta-feira:)

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  9. Gostei muito do filme e gostei da associação que a Isabel fez com este poema de Elizabeth Bishop.
    Bom sábado!

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    1. Também gostei muito.
      Coloquei o poema, porque no filme ele é referido e tem muito a ver com a história. É um poema que já aqui tinha colocado, e de que gosto muito.

      Obrigada! Um bom sábado também para si, MR:)

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