domingo, 11 de setembro de 2011

A Morte - Maria Filomena Mónica

,
Acabei de ler A Morte, de Maria Filomena Mónica, um pequeno livro de cerca de 80 páginas que aborda questões como o testamento vital, o suicídio assistido e a eutanásia e a falta de legislação sobre os mesmos.
Não são temas fáceis e se há quem nem sequer queira ouvir falar deles e pense que a vida tem que ser vivida até ao último momento sem outra possibilidade de escolha, independentemente do estado de saúde e do sofrimento que pode levar alguém duma forma consciente a querer abreviar o fim, também há quem pense de outra forma.
 Eu fui criada na religião católica e sou um pessoa de fé, mas penso que como pessoa individual tenho o meu direito de escolha.
 Se fosse caso disso  gostaria de ser eu a poder escolher o que só a mim afectaria.
Porque é que outros decidiriam por mim que eu tenho que continuar em sofrimento, se as dores são minhas?
Porque decidiriam que devo continuar a vegetar se a vida que não é vivida é a minha?
Porque decidiriam que tenho que estar imobilizada numa cama para sempre, se quem não pode correr, amar, viver...sou eu?
Se fosse caso disso gostaria de ser eu a escolher o que a mim diz respeito.
Não são assuntos pacíficos e concordo em absoluto que não são leis que possam ser elaboradas de forma fácil.
O livro é muito interessante  para quem  se queira  debruçar sobre o assunto ou já teve dúvidas a este respeito.


Relacionados com este tema li dois livros que falam de casos reais, Cartas do inferno de Ramón Sampedro (referido no livro de MFM) e Ainda Alice de Lisa Genova. O primeiro contado na primeira pessoa e o segundo na terceira pessoa. Ambos muito interessantes e que nos levam a reflectir sobre o assunto.

                                                                              

Deth and Life,  Gustav Klimt


"...os médicos (...) estão numa situação cada vez mais difícil: tanto são criticados por terem optado pela «obstinação terapêutica» como por terem «desligado a máquina» antes de tempo. A sua  inclinação (...) é prolongar a vida dos doentes ao máximo, o que nem sempre é positivo. Enclausurados em corpos demasiado frágeis para se poderem exprimir, pode acontecer que aos doentes terminais esteja a ser negada a possibilidade de morrer naturalmente, o que é tanto mais grave quanto tudo se passa fora do escrutínio das famílias." (pág.31)


"Admito que há doentes que se resignam a enfrentar dores horríveis. Respeito a sua opção." (pág.36)


...e com algum humor Maria Filomena Mónica diz:


"...até disse que a idade «madura» me parecia a melhor coisa do mundo. Depois fui-me apercebendo de que, se há coisas boas na velhice, as más as ultrapassam de longe.
(...)
Quando me viram de canadianas, as velhotas do meu bairro meteram conversa. Detectei logo nas suas palavras, uma peculiar mistura de sadismo e compaixão. A vizinha apressada - eu - passara a fazer parte das inválidas." (pág.54/55)


As citações foram retiradas de A Morte, Maria Filomena Mónica
Fundação Francisco Manuel dos Santos/Relógio D´Água Editores
                                                                            

16 comentários:

  1. São temas difíceis, se os homens soubessem partilhar e compreender que cada vida é uma vida e se segue de forma única, seria bom. Já não temos mais só a vontade de Deus, sobrevivemos aos infortúnios, prolongamos destinos e sofrimentos.
    Optaria por mim, não pelos outros.
    Deve ser muito difícil, quem sabe um dia faço minha opinião verdade, mas espero que não.

    bjs cara,
    coroas de estrelas hão de ornar sua cabeça.

    ResponderEliminar
  2. São temas muito difíceis sim.
    Eu não gostaria de ficar trinta anos imobilizada numa cama, a sofrer e a dar trabalho a terceiros, como aconteceu com Ramón Sampedro. São casos como este que fazem pensar.
    5 beijinhos e um bom domingo

    ResponderEliminar
  3. Um tema polémico, sim. Espero que se imponha a liberdade de poder decidir cada pessoa o que quiser para si mesma.
    Eu também penso que a velhice é uma época interessante, e "quando as coisas más ultrapassem as boas" e a vida deixe de valer a pena, espero ter a valentia de acabar com ela.
    Segui a vida de Ramón Sampedro em directo pela televisão, e depois disso o filme, Mar Adentro, apesar de ser de Amenábar, da óptima interpretação do Xavier Bardem, do óscar e de tudo, não esteve à altura da realidade (Ramón tomou o veneno diante duma câmara, ajudado por uma cômplice), e essas coisas nunca se esquecem.
    Disfruta deste maravilhoso domingo, que só se vive uma vez!!

    ResponderEliminar
  4. Bom dia Maria
    pensamos da mesma maneira. O importante é que cada um seja respeitado na sua vontade, tomada de forma consciente.
    Também vi o filme e li o livro. Impressiona a história deste homem.

    Obrigada Maria.Disfruta tu também deste domingo.
    Um beijinho

    ResponderEliminar
  5. Temas bastante complexos e difíceis de lidar.

    ResponderEliminar
  6. Isabel,
    A morte é um tema que me fascina. Vi este livro peguei nele e, embora goste muito de Maria Filomena Mónica, não o quiz trazer para casa.

    Supunha que o tema era o que aqui desvendaste.
    Também sou adepta da livre escolha e da livre consciência que cada um tiver sobre o assunto.
    Sou católica, não praticante, muitas vezes questiono a religião e Deus, com as múltiplas formas que lhe derem, gostava de crer sem questionar. Deus, a religião, é um tema para mim assaz interessante e que em parte pauta a minha vida.

    Não comprei este livro porque neste momento a morte me afecta tristemente.
    Quanto à velhice é outro tema que me sensibiliza, quero envelhecer bem, sem as mazelas que tenho visto nas pessoas de idade que conheço e que não têm garra, perdem a noção do real, não vivem, vegetam, isso angustia-me.
    Devemos lutar por morrer bem. Há um poeta ou filósofo não me lembro agora do nome que diz que logo que nascemos começamos a morrer.
    É muito interessante o teu post mas não vou ler por agora.
    Beijinhos! :)

    ResponderEliminar
  7. Olá Paula
    são sim, mas falando e lendo vamos esclarecendo dúvidas e até às vezes mudar a nossa maneira de pensar, não é?
    Um abraço

    ResponderEliminar
  8. Sabes Ana, eu acho que podes ler o livro porque não é pesado nem deprimente. É esclarecedor e lúcido. Percebe-se claramente a posição da autora, mas isso também não importa.É um livro fácil de ler.
    Eu também fui educada na religião católica, mas há muita coisa na religião com que não concordo e outras que não me dizem absolutamente nada. Acredito em algo, Deus? Ou...? Acreditar ou não numa Entidade Superior, acho que não é uma coisa que dependa da nossa vontade.

    A velhice é algo que vamos pensando mais com a idade(normal), e eu digo sempre que quero chegar a velhinha, mas lúcida e capaz de tomar conta de mim (claro que também aceito as doenças e as mazelas próprias da velhice, mas isso é outra coisa, é sofrimento normal e suportável). Doutra forma ,se puder escolher, não quero. Quando a vida deixa de o ser, não faz sentido, para mim. Respeito quem pensa diferente.
    Beijinhos e bom domingo

    ResponderEliminar
  9. Não li o livro, mas o assunto reveste-se de um interesse ao qual não sou alheia. Concordo com a ideia de que, cada um, deve decidir em conformidade com o seu sentir particular. É uma violência prolongar o sofrimento (não digo vida)de quem está num estado de debilidade física irreversível. E, hoje, a medicina já tem meios para o determinar com segurança.

    L.B.

    ResponderEliminar
  10. Também penso que sim, desde que seja uma escolha em lucidez, do próprio doente.
    O livro é interessante e fácil de ler. Tenho admiração pela Maria Filomena Mónica.

    Um abraço e bom domingo (o que resta)

    ResponderEliminar
  11. Post corajoso! Dou-te razão: devo ser "eu" a decidir da minha morte!
    Quando já não estiver "viva", para quê viver?
    "Gracias a la vida", de Violeta Parra fala do amor pela vida, desse bem que é a vida-viva, a luta, o amor pelas pequenas coisas.
    Mas é vida a vida a que chegam tantos? São gente? Para quê fazer sofrer mais uns tempos?
    "Mourir pour mourir", prefiro que me ajudem a morrer se já estiver dentro da morte...

    ResponderEliminar
  12. Obrigada Maria João, mas afinal muita gente pensa da mesma maneira.
    Gosto da canção "Gracias a la vida", gosto da vida, dessas pequenas coisas, de tudo o que tenho. E espero não perder nunca a lucidez nem esse amor pela vida, mas não sei o que me espera... e se um dia for preciso tomar uma decisão destas penso como a Maria João, "que me ajudem a morrer se já estiver dentro da morte".

    Um beijinho grande querida amiga

    ResponderEliminar
  13. Assunto delicado e polêmico... Mas concordo com você, também gostaria de ter o poder de decisão, numa (tomara nunca tenha) situação dessas...

    Muito interessante e reflexiva a postagem, Isabel!

    Beijo grande!

    ResponderEliminar
  14. Boa noite Helena
    muito obrigada pela visita e pelas suas palavras.
    Um beijo e boa semana

    ResponderEliminar
  15. Este belógue tem de tudo. Zabel a pôr o dedo na ferida. Eu também concordo. E esse quadro de Klimt é espectacular.
    Bj Zabel
    N/11

    ResponderEliminar
  16. Este belógue é um belógue que é feito do que é feita a vida.
    Este é um assunto da vida e por isso cabe aqui. Calculava que concordasses.
    E quanto ao Klimt, estamos de acordo também.
    Beijinhos N/11
    da Zabel

    ResponderEliminar