segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

"Bournout" dos professores


     Li este texto de Isabel Leal,( Professora de Psicologia/ Psicoterapeuta) «"Bournout" nos professores»,  na Caras nº898 de 27 de Outubro de 2012.


     "Uma das três profissões mais stressantes é, por estranho que pareça, a de professor. O desejável aumento, nas últimas décadas, do número de estudantes de todos os graus de ensino teve consequências na profissão docente. Não foi só a mudança de um ensino de elite para um ensino de massas, o que, por si só, já exigiria um enorme esforço de adaptação. Foi também e eventualmente em função desta grande alteração do sistema, a necessidade de modificar o tradicional papel do professor, figura respeitável, respeitada e detentora do conhecimento.

     Neste novo quadro, o professor, além de continuar a ser um transmissor de conhecimento, deverá desempenhar múltiplas tarefas e papéis. Deverá, além de ensinar e de se certificar que as aprendizagens são conseguidas, ser um mediador entre a Escola, as famílias e os alunos; detetar e encaminhar problemas e dificuldades que tenham consequências no desempenho escolar; fazer parte de equipas que estruturam currículos alternativos; participar em todos os aspetos da vida da Escola, desde a gestão de equipamentos e recursos, passando pelas tarefas administrativas, até à organização e acompanhamento de atividades extracurriculares.

     Resultante da mudança do papel tradicional da família, compete ainda ao professor ser o transmissor de um conjunto de valores socialmente tidos como desejáveis, e muitas vezes espelhados nos programas, e que, no entanto, não fazem parte do Know-how de muitas famílias.

     Paralelamente a tudo isto, e muito em consequência do desenvolvimento tecnológico, o professor tem que se manter ele próprio sempre em aprendizagem e formação rigorosas, sob pena de ser rapidamente ultrapassado pelos próprios estudantes.

     Esta acumulação de exigências - a que se podem somar muitas outras de natureza contextual ou relacional, como, por exemplo, a sobrecarga de trabalho; falta de condições materiais das escolas; excesso de burocracia; falhas na comunicação ou estudantes insubmissos ou problemáticos; grupos heterogéneos de alunos; situações sociais degradadas - fornece pano de fundo em que o professor se move e que faz da profissão docente uma atividade ansiogénica e stressante.

      O bournout, que na prática é um stresse ocupacional prolongado e intenso, surge em resposta a stressores interpessoais crónicos presentes no contexto laboral e é, efetivamente, um risco da profissão docente. Manifesta-se por sintomas de exaustão emocional, fadiga e depressão, e pode conduzir profissionais antes altamente motivados a situações de alienação, desumanização e apatia, conduzindo com frequência ao absentismo e ao desejo de abandonar a profissão."


                                                                                   
                                                                            

16 comentários:

  1. Olá Isabel,
    "Neste novo quadro, o professor, além de continuar a ser um transmissor de conhecimento, deverá desempenhar múltiplas tarefas e papéis".

    Nem mais Isabel. O professor carrega consigo o estigma da mais velha profissão do mundo. Não, não é a outra, é esta:))

    Veste vários papéis, não dó o de transmissor de conhecimentos, o de ensinar a estudar, dirigir as aprendizagens....mas também o de pai, mãe, psicólogo, amigo, companheiro - e tem que lidar com todo o tipo de situações, e gerir todo o tipo de conflitos. No dia seguinte tem de "ressuscitar" e voltar tudo ao inicio.

    Concordo, por isso com a autora do texto. Nem mais.

    Beijinho

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    1. Pois, a mais velha, mas não a outra!
      (brincadeirinha!)

      Também concordo completamente e por isso coloquei aqui o texto. Eu não diria melhor. E só quem está dentro do assunto sabe como a profissão exige cada vez mais de nós.

      Quanto a mim há muita papelada inútil, que desgasta e rouba horas que podiam ser melhor aproveitadas. Mas que havemos de fazer?
      Outras profissões certamente também terão as suas queixas.

      Um beijinho, JP

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  2. Gostei do texto e, no geral, concordo com ele.

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    1. Eu também MR.
      As pessoas criticam muito os professores porque não se apercebem da quantidade de horas que trabalhamos, fora as já muito cansativas 5 ou mais horas diárias com os alunos (cada vez mais faladores e em muitas turmas, mais indisciplinados).
      O texto é muito real.
      Boa noite!

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  3. Não é de admirar que existam cada vez mais professores com esgotamentos e a reformarem-se antes do tempo...

    Há limites...

    Um beijinho, Isabel!!:)))

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    1. É verdade Cláudia.
      Os esgotamentos e a depressão continuam. As reformas é que não. Agora nem com doenças bem comprovadas, deixam as pessoas aposentarem-se. (Só políticos com 47 ou 48 anos de idade e com reformas milionárias!)

      Um beijinho

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  4. O texto trata um facto que está aí sem dúvida alguma. Suponho que só os próprios professores podem unir-se para acabar com tanta burocracia inútil e exigir que o número de alunos por classe seja racional. Fui professora pouco tempo, mas suficiente para saber que é um trabalho cansativo, que necessita as férias que tem para começar de novo em bom estado físico e mental.´
    No entanto também é certo que há professores muito diferentes uns dos outros, que nem todos ensinam bem, nem são imparciais, nem sabem dar-se ao respeito e interessar os alunos, que também não são todos iguais. Tenho a certeza que me entendes, meter todos no mesmo saco não é riguroso.
    Havia muito que dizer sobre isto, mas prefiro ficar por aqui e mandar-te um beijão.

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    1. Maria
      concordo contigo que há bons e menos bons profissionais. Mas isso acontece em todas as profissões.
      Mas é muito desgastante uma pessoa estar tantas horas com 23 ou 24...27...alunos dentro duma sala de aula. Se eles ao menos permanecessem sossegados, mas não, é um esforço tremendo mantê-los atentos. Falo por mim: chego ao fim do dia esgotada. Não me sento, ando de um lado para o outro, falo alto...
      Muitos dias tenho reuniões. Fazemos formação. Há sempre papéis para fazer: actas, avaliações, relatórios...Depois todos os dias preparar as aulas, corrigir trabalhos...

      As pessoas criticam os professores, mas não imaginam a quantidade de trabalho que temos além das aulas.
      E há outras ideias erradas sobre a profissão, mas isso seria outra conversa.

      Um beijinho grande
      (Por aqui está um frio horrível. era giro que nevasse!Há dois anos caiu um grande nevão.)

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    2. Dou-te razão em tudo, há muitíssimas coisas que corrigir no ensino, que visto de fora pode parecer mais "suave".
      Mas, sem entrar em mais profundidades, só te quero dizer que penso que deves ser uma óptima professora, e como tal és premiada pelos teus alunos, que te adoram. Não digo nada mais...
      Que tenhas um dia quentinho, beijos.

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    3. Muito obrigada Maria, és muito querida. Olha, com toda a sinceridade te digo que sou média. Há dias que venho muito satisfeita, porque acho que o dia rendeu, que os miúdos trabalharam bastante...outros dias venho um bocado desanimada porque as coisas não correram como eu desejava.
      Esforço-me por fazer as coisas bem e penso em primeiro lugar nos alunos.
      Gosto muito dos meus alunos e sei que eles também gostam de mim, isso sei.
      Um beijinho grande.

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  5. Um excelente artigo! Denota um conhecimento profundo do que se passa, hoje, nas escolas. É matéria que escapa à sociedade em geral que assimilou, erradamente, a ideia de que o professor pertence a uma classe privilegiada e, nesta base, exigi-lhe mais e mais e mais. Ora este acumular sistemático e absurdo de funções subverte e desrespeita drasticamente a sua função de pedagogo e educador.
    Os resultados estão à vista: desmotivação, doença, abandono...


    Obrigada!

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    1. Obrigada eu Lídia, pelo seu comentário.
      Concordo consigo e também achei isso mesmo, que a autora do artigo conhece muito bem a realidade da profissão. É muito real tudo o que ela escreve.

      Um abraço

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  6. Olá Isabel

    A escola passou a ser um reflexo perfeito, direi melhor, a alma gémea da sociedade.
    Claro que virou problema porque parece estar a ruir ainda mais rápida, embora poucos queiram reparar nisso, deixando-se aos professores a missão, direi impossível, de a salvar ou pelo menos uma delas.

    Um abraço

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    1. É verdade, os professores têm actualmente a seu cargo muitas tarefas que não lhes competem. Os alunos passam muito tempo na escola e a escola acabou por assumir algumas funções da família e não só. Cada parte da sociedade tem o seu papel e a confusão destes papéis não me parece que seja benéfica para as crianças.

      No meio de tudo isto, tenho a certeza duma coisa: os professores esforçam-se imenso e trabalham muito, mas são cada vez menos considerados.
      Vamos ver que sociedade teremos daqui por vinte anos.

      Um abraço

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  7. Olá Isabel,
    Imagino o trabalho que os professores têm actualmente, com tantas tarefas que não lhes competem. E domar a indisciplina, e os conflitos familiares que eles trazem para a escola, deve ser muito complicado conciliar tudo isto com os programas de ensino e o problema social de cada aluno.
    Gostei muito do artigo que escolheu. Fiquei a saber que esse stresse "Bournout" pode ter consequências muito gravosas para os professores, levando-os ao desânimo, fadiga, depressão etc., até à exaustão total e consequente desejo de abandonar a profissão.
    Enfim, esperemos que as coisas mudem, pois os professores não são deuses...têm as suas limitações, como qualquer ser humano.
    Um beijinho Isabel

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    1. Não me parece que as coisas mudem para melhor. Pelo contrário. Tem sido um massacrar os professores...
      Este ministro bem desiludiu. Mas a política e o poder contaminam.
      Enfim, vamos fazendo o que é possível. Temos que fazer algo para lá da escola, que nos descontraia e faça esquecer um pouco o desgaste profissional. Eu vou ao cinema e aos espectáculos de vez em quando. (e enquanto não me roubarem o dinheiro todo)
      Um beijinho

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