domingo, 9 de março de 2014

Estados de espírito

                                                                                


     "Nunca é o pensamento que assusta, é a gramática pesada que o serve, as mil remissões do discurso académico. Nem são as resmas de papel nas mãos dos oradores, a prometerem-se infinitas; é a palidez de algumas caras e a suspeita de que não será preciso tanta renúncia ao sol e ao prazer para entender a vida e aceitar a morte."

Pág.33

     "Quando rezo, nunca peço para que os problemas se resolvam. Deus não é uma varinha mágica. Peço força e equilíbrio para os enfrentar e, só de formular, arranjo-os.
[...]
     A minha vida social também se alterou. Perdi o gosto de me relacionar gratuitamente e arrependo-me quando saio de casa. Talvez não seja feliz, mas ninguém me oferece mais. Agora , gosto de petiscar. Um livro, um verso, um filme, dois dedos de conversa, uma roupa confortável, três horas seguidas de sofá a repensar a vida. Tirem-me isto e é um martírio. Dantes, gostava de conhecer pessoas; agora as que tenho chegam-me."

Pág.38

4 comentários:

  1. Li os dois primeiros livros de Rita Ferro (O nó na garganta e O vestido de lantejoulas) e gostei, principalmente porque descrevia muito bem certa burguesia que ela conhecia. Depois o seguinte, de que já não me lembro do título, chateou-me porque parecia uma repetição.
    Talvez espreite este diário.

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    1. Também li o Nó na Garganta e mais três que tenho, um deles o que fez com a filha, Desculpe lá Mãe. O Vestido de Lantejoulas não li. A sensação que tenho também é essa: tornaram-se repetitivos. Nunca mais li nada, Este Diário está a agradar-me e lê-se muito bem. Há certas passagens, com que me sinto identificada ( sem nenhum tipo de presunção, mas com a forma de encarar a vida, que vem com a idade e com algumas desilusões ).

      Boa semana, MR :)

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  2. Há tempos, li qualquer coisa sobre este livro... ou talvez tenha lido ou ouvido uma entrevista com a autora. Sei que fiquei curiosa. Com os excertos que aqui publicaste fico ainda mais - é desta que compro o livro!
    Apesar de ser mais nova do que ela, identifico-me bastante com o último excerto. Poderia ter sido eu a escrevê-lo, se tivesse, obviamente, a mesma facilidade em escrever.
    Bom resto de semana, Isabel, e obrigada pelas partilhas.
    Bjs

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    1. Eu folheei-o na Bertrand e achei que devia ser engraçado. Não me arrependi de o ter comprado. Tenho a certeza que vais gostar.
      Também me senti identificada com muitas passagens do livro e outras tantas coisas que a autora diz, mesmo que as diga com sentido de humor. Não me separa muito a idade (ela só tem mais quatro anos que eu, que vou fazer 54), separa-me o nível cultural e a "classe social", no entanto, há neste livro muitas coisas que podiam ter sido ditas por mim - tal como tu dizes. Identifico-me!

      Espero que o segundo seja igualmente interessante.

      Um beijo

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