sexta-feira, 12 de junho de 2015

"Pára-me de repente o pensamento"


Pára-me de Repente o Pensamento

Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.

Ângelo de Lima, in 'Antologia Poética'  
 
Retirado do Citador
 

 ********


Um documentário de Jorge Pelicano.
Fui ver sem saber bem o que ia ver.
Valeu a pena.

                                                                           
 
                                            
            
"Pára-me de repente o pensamento/Como que de repente refreado/Na doida correria em que levado/Ia em busca da paz, do esquecimento..." Assim começa o poema publicado em 1915 na revista "Orpheu", da autoria de Ângelo de Lima. Em 1894, o poeta e pintor foi internado no Centro Hospitalar Conde de Ferreira (Porto) com o diagnóstico de "delírio de perseguição". Para reencontrar a personagem para a sua peça de teatro, o actor Miguel Borges decide passar três semanas com os actuais pacientes do hospital. Durante esse tempo, partilha com eles as conversas, as refeições, as terapias, o café e os cigarros. O documentarista Jorge Pelicano ("Ainda Há Pastores" e "Pare, Escute, Olhe") pega na câmara e segue os seus passos, filmando 250 horas desse convívio e aprendizagem. A montagem final resultou num tratado de uma hora e meia sobre a loucura e a lucidez. PÚBLICO "
 
             

2 comentários:

  1. Deve ser triste mas interessante. Gostei do soneto, nota-se que é uma pessoa com a mente atormentada.
    Bom finde, beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por acaso não achei o filme triste. É mesmo interessante. As partes mais pesadas e impressionantes de um hospital psiquiátrico não foram mostradas e por isso o filme mostra uma realidade que existe, que pode tocar a qualquer um, mas não é um filme que deprime. Gostei bastante.

      Um beijinho e bom finde também para ti, Maria:)

      Eliminar