terça-feira, 25 de outubro de 2011

Khalil Gibran - O Louco

O Louco

    " Sabem como fiquei louco?
     Há muito tempo, muito antes de terem nascido os deuses, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas.
     As sete máscaras que tinha fabricado meticulosamente tinham desaparecido.
     Sem nenhuma máscara saí para a rua cheia de gente a gritar: "Ladrões! Malditos ladrões!"
     Todos se riram de mim, mas alguns fugiram e fecharam-se em casa com medo.
     Quando cheguei à praça principal uma criança que estava sobre o telhado de uma casa gritou: "Olhem, é um louco!"
     Voltei a cabeça para o ver e pela primeira vez o sol encontrou o meu rosto sem máscara.
     O sol iluminou ao mesmo tempo o meu rosto e a minha alma.
     A partir desse dia nunca mais usei máscara, e agora agradeço todos os dias ao ladrão que me a roubou.
     Agora que já sabem como me tornei num louco, posso confessar-lhes que encontrei muita liberdade e segurança na minha loucura.
     A liberdade da solidão e a segurança de nunca ser compreendido ( aqueles que nos compreendem fazem de nós escravos).  (...)"


Retirado de O Louco, Khalil Gibran, pág.7
Padrões Culturais Editora



Munch, Melancolia
Óleo sobre tela
                                                                                   

14 comentários:

  1. Uma excelente perspectiva sobre a loucura. Afinal ser louco é ser diferente. Neste caso é ser autêntico, mas essa autenticidade tem um preço - a marginalização.

    Um beijo

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  2. Ser diferente custa o preço da marginalização, porque a diferença assusta. O desconhecido assusta.

    Um beijo

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  3. Sempre me curvei a ele. Simples e real. Al Mustafat. Maravilhoso ter me feito lembrar dele, ele que dança tão bem e que retira as referencias seguras dos que chamam de "normal" as prisões e de "loucos" os livres.

    bjs meus

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  4. Gostei muito Isabel. Não conhecia. Um louco não usa máscaras e isso tem um preço!
    Loucura é o melhor estádio de todos... é estranho o que estou a dizer.
    Beijinhos. :)

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  5. Bom dia amigas
    ainda bem que recordararam e gostaram.
    "normal" as prisões e "loucos" os livres, é muitas vezes a verdade.
    5 beijinhos

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  6. Olá Ana
    não é estranho o que dizes. Esse estádio é o melhor de todos, porque não esperamos nada de ninguém, e ninguém espera nada de nós. É a liberdade completa.

    Mas é melhor ter algumas prisões...é preciso é não deixarmos que sejam demasiadas.
    Um beijinho

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  7. Bom dia Maria João
    todo o livrinho (que é pequeno) é estranho, mas é interessante.Deixa-nos a pensar...
    Um beijinho grande e que tenha um dia tranquilo

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  8. Leste O Profeta? ( Suponho que está traduzido ao portugués, é toda uma visão da vida).
    Era uma pessoa muito atormentada. Aqui fala da liberdade da solidão, quando afinal não pode passar sem os outros para sentir-se ele completamente. Penso!(...logo existo, menos mal).
    Beijinhos

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  9. Quando assumimos a loucura saudável dos pássaros

    somos mais livres que o voo

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  10. Olá Maria
    li O Profeta. Há bastante tempo. Fui buscá-lo e vou colocar logo um post com um texto dele.
    Devia ser mesmo uma pessoa atormentada, para escrever assim.
    Ninguém pode passar sem os outros, e portanto são mesmo precisas algumas prisões.
    Se pensas...( e logo existes, menos mal), já não estás mal...

    Um beijinho grande

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  11. Boa noite Mar Arável

    e quem saberá fazê-lo...(conscientemente)?

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  12. A composição desta tela é extremamente fiel ao título, curvas descendentes, todas.... desde o céu... cores frias e predominancia do quase preto mórbido....muita melancolia e tristeza... não é a toa que é uma obra de arte e se vê a diferença... Edvard Munch ....

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  13. Muito interessante tudo o que diz sobre a tela.
    Quem sabe, sabe.
    Obrigada. Gosto de aprender.
    Um abraço

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