sábado, 21 de abril de 2012

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos nocturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.


Cecília Meireles


                                                                                     

10 comentários:

  1. Isabel,

    Bonito poema e florzinha singela que ilustra a timidez.

    São sempre boas escolhas, as suas.

    Gostei do post anterior sobre a Florbela.

    Bom fim de semana!

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    1. Muito obrigada UJM, por gostar das escolhas que vou trazendo.
      Gostei muito do filme da Florbela.
      Um bom fim-de-semana também para si( já só domingo)

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  2. Respostas
    1. Olá Catarina
      obrigada por gostar.
      O poema é lindo. A foto é minha, como praticamente todas as do blogue. Gosto de fotografar, tal como a Catarina.
      Um abraço e bom domingo

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  3. Lindo,

    simples e bonito, gosto disso.

    bjs nossos

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    1. Que bom que gostaram e que bom que estão aqui. Tenho sentido a vossa falta.
      Beijinhos amigos para todas

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  4. Muito bonito, este poema de Cecília Meireles.
    é para ler e reler e reflectir!
    Boas leituras.
    Beijinhos

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    1. Também achei muito bonito. Já o tinha copiado há tempos, copiei vários de um livro que trouxe da biblioteca e calhou agora colocá-lo aqui. Hei-de trazer outros. Eu acho que são todos bonitos.
      Um beijinho e boas leituras também (se tiver tempo para isso!)

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  5. O poema é realmente a descrição da timidez.A pessoa se esconde, se apaga, se torna um nada por receio de desagradar os outros porque quer mostrar o que há de melhor em si mas não tem certeza de que esse melhor agradará as pessoas. Então, simplesmente se anula e... que pena!, acaba chegando ao final da vida com uma sensação horrível de vazio, de tempo perdido e principalmente de arrependimento por nunca sequer haver tentado lutar contra o medo de uma desaprovação.A vontade de reverter o quadro se instala, mas é tarde demais...
    O poema me fez lembrar de uma redaçãozinha do Fabinho quando conta a história de uma minhoca que queria ser foca porque se livraria de ser comida por um bicho qualquer. Como ela tinha nascido minhoca e não foca, com medo de ser devorada, entrou em sua casinha embaixo da terra e lá ficou escondidinha. Só que ela ficou tanto tempo escondida que envelheceu e morreu.
    Morreu sem ver a vida. Não perturba a gente essa idéia?
    Abração.
    Laurinha.

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    1. Perturba sim.
      O Fabinho sempre foi o "escritor" não foi? Mas a história é muito engraçada.
      E na vida é isso mesmo muitas vezes que acontece.Por medo de não sermos aceites, vamos negando muitas vezes a nossa natureza, a nossa maneira de ser, aquilo que somos, que queremos, que pensamos...
      Não se muda de um dia para o outro, mas vamos fazendo por isso...
      Beijinhos para todos aí.
      Obrigada pela visita, tia Laurinha. Fico sempre feliz.

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