CANÇÃO SAUDOSA
A Saudade vem bater,
Vem bater à minha porta,
Quando o luar é de lágrimas
E a terra parece morta.
E a saudade bate, bate,
Com tal carinho e brandura,
Que nem a aurora batendo
À porta da noite escura!
Mas eu ouço-te, Saudade...
E o silêncio é tão profundo!
Ouço vozes, choros de alma,
Que ninguém ouve no mundo!
Misteriosas imagens
Passam, por mim, a falar...
Bem entendo o que elas dizem,
Bem o quisera contar!
Mas - que tragédia ! - emudeço.Caio, de mim, sobre o nada!
Sou a minha própria sombra
Não sei onde projectada!
E entra a Saudade...Fiquei
Como assombrado e sem voz!
Sinto-a melhor, que senti-la
É vê-la, dentro de nós.
Vinha com ela a tristeza
Que a tarde espalha no ar...
Vinha cercada das sombras
Que andam, na terra, ao luar.
E vinha a sombra dos Ermos,
Com os olhos rasos de água...
E os segredos que à noitinha
Vem dizer a nossa mágoa.
Vinha a sombra do Marão,
Sob a Lua em várias fases;
E, no seu rosto de bronze,
Trazia um véu de lilases.
Vinha a alma do Desejo,
Toda a arder...Em volta dela,
Giram mundos e fantasmas,
Como em volta de uma estrela.
Tudo o que é sonho em vigília
No sono da Criação;
E, entre falsas aparências,
É divina Aparição;
Tudo vem com a Saudade,
De noite bater-me à porta,
Quando o luar é de lágrimas
E a terra parece morta...
Teixeira de Pascoaes
Antologia Poética, pág.16
Ilídio Sardoeira
Cadernos F.A.O.J. Série C - Nº2
Que maravilha, Isabel, e que belas fotografias de portas. As fotografias são suas?
ResponderEliminarUma vez mais a escolha dos poemas conjuga-se na perfeição com a escolha das imagens. Gostei muito.
Um beijinho, Isabel e tenha uma boa segunda feira,
Muito obrigada UJM. Agradeço-lhe duplamente, por gostar das fotos e do conjunto no post.
EliminarAs fotografias são minhas, como quase sempre. Quando não são minhas, identifico-as.
Um beijinho e uma boa segunda-feira também para si
Excelente série
ResponderEliminarMuito obrigada.
EliminarTirei-as todas no mesmo dia e próximas umas das outras. Numas ruas acima do tribunal.
Uma boa semana para si
Poesia pura,como uma balada triste.
ResponderEliminarAchei piada, porque para o meu próximo post, que ainda não tive tempo de escrever, só tenho o título, e o batente de uma porta...
O meu está reluzente, já verás. Tirei-o de internet, claro, mas não punha autor, assim como o quadro para baixo. Gosto de pôr de quem são as coisas, mas nem sempre é possível como sabes.
Acreditas na transmissão de pensamentos?!
Pura casualidade.
Feliz semana, um beijinho
Fico curiosa de ver.
EliminarSabes, Maria, que desde que coloquei aqui o outro batente,foto tirado há mais tempo que estas, e como tu mostraste tanta vontade de ter um, tenho ido todos os meses à feira das velharias e só lá vi um uma vez, mas estava tão velho, tão gasto - os contornos dos dedos praticamente não existiam - que achei que não valia o dinheiro que me pediam.
Pensei que aparecessem mais.
Sou uma pessoa de fé, como sabes, mas não sou uma pessoa com sensibilidade para essas coisas. Os meus pressentimentos nunca saem certos - sejam os bons ou os maus.
É o acaso e o facto de também termos alguns gostos semelhantes, não achas?
Acredito no destino, num Deus, na força da nossa mente...achas possível conjugar tudo isso?
Bem, contigo escrevo sempre muito.
Um beijinho e uma semana feliz para ti também. Fico à espera desse post.
Não pensei que as fotos fossem tuas! Tanta porta antiga, que maravilha! Parabéns pelo trabalho e por disponeres desse material maravilhoso ( aqui seria impensável já, por desgraça).
ResponderEliminarSão sim Maria.
EliminarTirei-as há talvez menos de um mês, não sei bem. e todas perto umas das outras.
Quando as fotos não são minhas identifico-as ou digo de onde foram retiradas. Quando não têm nada são minhas. É raro colocar fotos que não sejam minhas. Tenho tantas...
Também tirei no mesmo dia, algumas de casas velhas que ainda aqui hei-de pôr.
Um beijinho e obrigada por estares aqui.
(Já tomamos o cafezinho!)
Isabel, o factor "tempo" está aqui bem presente. Será que estas casas são habitadas?! Será que não?! Quem as habita?
ResponderEliminarCertamente pessoas com alguma idade... e com saudade da juventude... ou talvez não... Cada casa uma história!!
Pascoaes, o poeta do saudosismo!...
Bela conjugação e bonitas fotografias.
Gostei muito.
Beijinhos
Muito obrigada Cláudia, por gostar e pelas suas palavras.
EliminarA imaginação a trabalhar...na verdade, cada uma delas deve ter histórias interessantes guardadas.
Algumas creio que ainda são habitadas.Talvez até a maior parte delas. E de certeza por pessoas de idade. Há ali para aquela zona, mas um pouco mais para cima, algumas casas restauradas. E ficam muito bonitas. Quando por ali passo fico sempre com vontade de ver como estarão por dentro.
Um beijinho grande e uma boa semana
Lindos batentes, lindas portas! na minha terra chamava-se "martelo" ao batente... A minha casa tinha uma porta verde e um lindo martelo prateado(ainda lá está, mas a casa já não é minha...)
ResponderEliminarbeijinhos às duas "conversadoras"!
Obrigada Maria João.
EliminarNão conhecia o termo "martelo" aplicado aqui, mas faz algum sentido.
Quando eu era garota chamavamos-lhe "mãozeira". Até hoje nem sei se era coisa de garotos que não sabem o nome verdadeiro, ou se toda a gente lhe chamava assim. Mas eu e as minhas irmãs ainda usamos muitas vezes esse termo.
E o "martelo" da sua porta era igual a algum destes? O da minha casa não era. Ainda lá hei-de ir fotografá-lo.
Um beijinho grande
(espero que a outra conversadora volte e receba o seu beijinho...)
Muito, muito giro!
ResponderEliminarBoa noite!
Muito obrigada MR.
EliminarFico contente que tenha gostado.
Sabe bem ouvir um elogio. Obrigada.
Um bom dia para si
Gosto de fotografar portas. Há sempre algo nelas que me chama para as captar. E janelas e chaminés também. ;)
ResponderEliminarJanelas também gosto, agora chaminés penso que não tenho nenhuma. Tu aí tens muitas e bonitas, pelo que se proporciona, mas para aqui não há interesse.
EliminarNão costumas colocá-las no blogue pois não? Não me lembro de ver nenhuma desde que visito o teu blogue.
Boa semana