terça-feira, 4 de setembro de 2012

Começa Uma Vida - Irene Lisboa


Começa uma vida de Irene Lisboa ( João Falco )

Gostei muito deste livro de Irene Lisboa, em que a autora fala da sua infância, difícil e solitária.
Um livro muito belo, enriquecido com  desenhos de Maria Keil  Amaral.

"É um livro de cunho autobiográfico que reconstrói os primeiros anos de vida da autora (...). Seguimos os seus primeiros passos na escola, conhecemos os seus professores, familiares ou as figuras dominantes dessa época, que marcaram de algum modo a sua vida.
A obra tem um profundo eco intimista e através de uma história pessoal, mostra um exemplo de uma realidade portuguesa do começo do século XX, caracterizada pela decadência dos terratenentes e da burguesia hipócrita promovida pelo dinheiro a custo dos mais fracos." ( Retirado da Wikipédia )


 
 
 
 
"Nada disto obstou, nem podia obstar a que a doce Megila tivesse sido um fiel consôlo da minha meninice e depois disso uma lembrança terna. Nunca cheguei a ser dona da sua bela cómoda de pau prêto, do seu guarda-vestidos nem das suas jóias. Mas ficou-me a memória do seu pobre amor e do seu lugar ao pé de mim. Nisto de vidas, em que cada coisa tem sempre o seu lugar, já não é muito pouco." ( pág.27)
 
 
 
 
"Cada um de nós faz a história das pessoas e dos lugares a seu modo!" ( pág.35)
 
 
 
 
" Aquêle quinto andar parecia-me tão claro e tão alegre! O nosso segundo, em baixo, para o lado de trás sobretudo, era como um poço. Há certos acidentes físicos, como haver sol e não haver sol, ser dia e ser noite, que eu associo perfeitamente a quaisquer outros e que fico lembrando por muito tempo. Aquêle quinto andar para mim era uma representação do sol, do brilho da luz." ( pág. 41)
 
 
 
 
 
"Se eu hoje pintasse e não escrevesse (a literatura parece-me uma arte muito menos simbólica que a pintura), como representaria esta espécie de nebulosas mentais em que mais ou menos vivemos?
[...]
Que poder do espírito é êste que conserva umas impressões e elimina outras? E que as conserva sob formas que não são puramente sensoriais nem raciocinadas?
[...]
Parece-me que a linguagem se inclina abusivamente para a lógica e para a justificação. Que a falar nos recompomos e nos enfeitamos demais...Em suma, pintadas, tornadas plásticas, talvez que as nossas impressões e memórias resultassem mais sóbrias e mais nítidas que descritas." ( págs. 56/57 )
 
 
 
 
"Êste período da minha existência, que para mim tão decisivo foi, é que eu estimava saber bem descrever. Não o saberei! Ultrapassa-me, excede-me o entendimento naquilo que teve de misterioso e extraordinàriamente minaz. Eu era um ser indefeso e infantil; pouco sabia ver, só sabia sentir." (pág.134 )
 
 
 
 
 
( Nas citações retiradas do livro, manteve-se a ortografia utilizada nessa edição.)
 

18 comentários:

  1. Não li ainda, mas será mais um livro na minha lista de leituras importantes.

    Obrigada!

    Lídia

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  2. Isabel, parabéns! Uma excelente antologia do belo livro de Irene Lisboa! Inteligente, sensível, humana. Gostei muito!

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    1. Muito obrigada Manuel.
      São muito importantes para mim as suas palavras, porque queria ser capaz de mostrar um pouco da beleza do livro, que é lindo. E porque foi graças ao Manuel que descobri a riqueza da escrita de Irene Lisboa.
      Obrigada

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  3. Gostei, guardei nas minhas notas o conceito que não conhecia de que "a falar nos recomponemos". Quanto ao segundo, de que nos enfeitamos demais, acho que nem sempre, depende de cada pessoa.
    Pintando também nos podemos enfeitar, e até fazendo-nos uma foto, o que não tem nada de reprovável, é evidente.
    Um beijinho muito grande

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    1. Sim, é relativo, mas pode acontecer que nos "enfeitamos", ajeitamos se calhar a realidade, justificando-a com as palavras. Na pintura não há essa lógica da justificação.
      Embora também possa ter interpretações diferentes, não é?
      Não sei...

      Um beijinho grande



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    2. Penso que falar é tão importante porque de certa forma enchemos vazios interiores que nos ajudam a isso, a "recompor-nos". É como se falando com outros nos estivéssemos a encontrar a nós própios — O Ego sempre, como vértice de cada circunferência: inevitável...
      Te quiero

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    3. Falar faz bem e é saudável. Concordo que nos encontramos um pouco a nós próprios quando falamos com os outros. Até e principalmente com um psicólogo. Quando mais ninguém sabe ou pode ouvir-nos.
      Os problemas e as dúvidas ficam menores quando as partilhamos, quando falamos com os outros, quando constatamos que eles sentem parecido, que são como nós.

      Também te quiero

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  4. Gostei muito do teu post, Isabel!
    "Cada um de nós faz a história das pessoas e dos lugares a seu modo!", diz Irene Lisboa e cada um fala dela com a sensibilidade que tem: tu falaste dela muito bem, escolheste os textos que "te falam" e as imagens de acordo com esse começar de vida tão solitário e infeliz.
    Tens muito bom gosto!
    beijinhos

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    1. Muito obrigada Maria João. Fico muito contente que tenha gostado.
      Eu concordo com essa frase da Irene Lisboa, que se pode aplicar a pessoas, lugares, até à leitura de um livro...
      A nossa versão das coisas tem a ver com a forma como elas nos "tocam", não é?

      Um beijinho grande e obrigada

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  5. Isabel,
    Que bonita e merecida homenagem fez à Irene Lisboa!
    Certamente que vai ser responsável por novos leitores desta magnífica escritora... ainda tão pouco lida e lembrada!
    O post está muito bonito.
    Um beijinho.

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    1. Muito obrigada Cláudia, pelas suas palavras e por gostar do post.

      Ficaria muito contente se isso acontecesse...

      Um beijinho grande


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  6. Homenagem muito bonita que fez a Irene Lisboa, com excertos do livro da sua infância e dos seus primeiros passos na escola, coincidindo com a abertura do ano lectivo.
    Os posts estão muito bem enquadrados, muito boa escolha.
    Parabéns.
    Um beijinho

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    1. Muito obrigada Maria Eduardo pelas suas palavras.
      A coincidência com a abertura do ano lectivo, foi mesmo coincidência, pois por acaso não pensei nisso. Apenas foi que acabei agora a leitura do livro.
      Um beijinho

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  7. Deve ser um livro bastante interessante. Gostei especialmente das ilustrações.

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    1. É um livro muito bonito. Conhecia mal Irene Lisboa e estou a gostar muito. Tenho vários livros para ler.
      As ilustrações são muito bonitas. Gosto de tudo o que conheço da Maria Keil.

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  8. "Cada um de nós faz a história das pessoas e dos lugares a seu modo!"

    Existem poucas verdades como essa.

    bjs,
    obrigada pelo post, ando aprendendo sobre ela e ando amando.

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    1. Que bom, que andam aprendendo sobre ela. Eu também estou a aprender e a gostar muito da escrita de Irene Lisboa.

      Beijinhos para todas e obrigada

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