terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Castelo de Sombras


INVERNO

A noite cai sobre a terra
e o vento no seu fadário
anda a cantar pela serra
como um louco solitario...

Foi a voz do meu tormento
soluçando em convulsões
juntar á canção do vento
as suas tristes canções!

Oh! vento sobe mansinho
até ao cimo dos montes...
Não te percas no caminho,
Não vás desgrenhar as fontes!

Não bulas no arvoredo
que dorme abraçado ás heras;
Não me endoideças de mêdo,
não vás acordar as féras!

.....................................................
Chora o eixo dos moinhos
- são fados -deixae chorar...
Anda a Dôr pelos caminhos,
- ninguem a queira encontrar!...

Castelo de Sombras, Judith Teixeira
pág.21/22
(a grafia , respeita o conteúdo do livro)

                                                                               
 
 
Castelo de Sombras, é o volume desta semana da colecção fac-similada, que assinala os 500 anos da Biblioteca da Universidada de Coimbra.
É um livro com um formato diferente, como uma revista (tem 27,8 por 21,1 cm e apenas 66 páginas).
Não conhecia a autora, sobre a qual retirei da Wikipédia (onde se poderá encontrar mais informação) o seguinte: Sobre Judith Teixeira pronunciou-se Aquilino Ribeiro, em 1923, considerando-a uma "poetisa de valor". Em 1927 José Régio afirmaria que "todos os livros de Judith Teixeira não valem uma canção escolhida de António Botto. O crítico João Gaspar Simões louvaria em 1937 a "audácia" da poetisa, considerando-a embora "sem talento". António Manuel Couto Viana referiu-se a Judith Teixeira como a "única poetisa modernista" portuguesa, afirmando sobre as suas poesias: "separando  muito trigo de muito joio, penso-as merecedoras de melhor sorte do que o silêncio, a ignorância, a que têm estado votadas."
 
Quem fez a selecção das obras a figurarem nesta colecção interessantíssima, achou a poetisa merecedora de estar ao lado de  nomes como Camões, Padre António Vieira, Eça de Queiroz, Almeida Garrett, Almada Negreiros, Raul Brandão, José Régio, Fernando Pessoa, Florbela Espanca...
 
O melhor é ler o livrinho e ver se nos agrada!...
 
 

6 comentários:

  1. Tinha-o debaixode olho. Também o comprei hoje, Isabel.
    Na pág. 12, há uma palavra que não entendo e que não consta das ERRATAS.
    Não a digo por ter vergonha da minha ignorância...
    É a primeira da 3ª linha.


    Um beijo.

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    1. Ignorância, é coisa que não lhe conheço! (fixei a palavra "periglicofilia", graças à sua explicação!)

      Também me deparei com a palavra que menciona, quando folheei o livro, e intrigou-me. Não conhecia. Fui ver ao dicionário (estuar: pois pareceu-me uma forma verbal) e no dicionário diz: estar muito quente, agitar-se, ferver. Para mim "agitar-se" faz sentido, pois é Primavera e tudo desabrocha da terra. Será esse movimento, essa agitação da terra, da natureza...
      Não sei...interpreto assim. Faz sentido?

      Gostei do livro (ainda não li todo)

      Um beijinho

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  2. Quem fez a selecção das obras a fac-similar merece o nosso público agradecimento !

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    1. Concordo!
      É uma colecção muito interessante. Estou a fazê-la. Tinha alguns livros, mas estes são mais bonitos.

      Um beijinho

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  3. Uma avaliação masculina bastante severa.
    Do que entenderiam os homens, sobre poetisas e sobre os medos e a dor de ser mulher e poetisa.
    Gosto de saber que figurou no meio de incríveis...mesmo sem conhecê-la.

    amei a poesia.

    bjs nossos

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    1. Mas dois dos autores referidos, defendiam a sua poesia.
      Era um tempo mais difícil para se ser mulher.
      Eu não conhecia a autora. Também gostei da poesia.

      Beijinhos para todas!

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