sábado, 22 de fevereiro de 2014

Tenho uma saudade tão braba


Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.

Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.

Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.

Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.

Vitorino Nemésio

(Retirado da revista Ler de Fevereiro de 2014)

                                                                                    
 
Myra Landau
 

6 comentários:

  1. Posso dizer que não conheço a obra de Vitorino Nemésio, a não ser o título de "Mau Tempo no Canal" e agora este poema. Obrigada pela partilha.

    Bom fim-de-semana! :) Bjs

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    1. Estamos iguais!
      De Vitorino Nemésio, lembro-me de quando era garota do programa "Se bem me lembro", na televisão. Mas na altura, achava aborrecido, porque aparecia sempre antes de alguma coisa que queria ver, algum filme, certamente. Pelo menos é esta a ideia que me ficou.
      Também tenho o "Mau tempo no canal", mas nunca li.
      A revista Ler traz alguns poemas dele e gostei.
      Bom fim-de-semana!

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  2. Uma voz própria que vale a pena conhecer bem, a de V. N..
    Destacaria o poema dos "alciões chegados" que, em tempos, postei no "sítio do costume"...
    Bom dia, Isabel!

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    1. Como digo no comentário anterior, não conheço nada dele, mas gostei bastante dos poemas que vêm na Ler.
      Vou ver o poema de que fala. Obrigada.

      Bom fim-de-semana!

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  3. Muito vivo o poema. Vêem-se as saudades da terra dele e, lembrando o que vi dos Açores, percebo-o bem...
    Gosto dele, li algumas coisas, ele foi meu professor de Literatura Brasileira na Faculdade. Era uma pessoa interessantíssima e o programa era muito bom sem dúvida! Beijos e bom domingo!

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    1. Conheço muito pouca coisa, mas gostei dos poemas que li na revista e despertou-me a vontade de conhecer um pouco mais. Nunca ouvi nenhum programa com atenção, não me recordo.
      A Maria João teve professores que eram pessoas muito interessantes - vários escritores.

      Hoje está (esteve) um bonito dia de sol. De manhã andei a passear pela cidade, com uma sobrinha. Soube bem, depois de tanto tempo de chuva!

      Um beijinho grande e continuação de bom domingo!

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