Uma roseira que dá rosas de duas cores...
Ladainha
Teu coração dentro do meu descansa.
Teu coração, desde que lá entrou:
E tem tão bom dormir essa criança,
Deitou-se, ali caiu, ali ficou.
Dorme, menino! dorme, dorme, dorme!
O que te importa o que no mundo vai?
Ao acordares desse sono enorme
tu julgarás que se passou num ai.
Dorme criança! dorme, sossegada,
Teus sonos brancos ainda por abrir:
Depois, a morte não te custa nada,
Porque a ela habituaste-te a dormir...
Dorme, meu anjo! (a noite é tão comprida!)
Que doces sonhos tu não hás-de ter!
Assim, com o hábito de os ter na vida
Continuarás depois de falecer...
Dorme, meu filho! cheio de sossego,
Esquece-te de tudo e até de mim.
Depois...de olhos fechados, és um cego,
Tu nada vês, meu filho! e antes assim.
Dorme os teus sonhos, dorme e não mos digas,
Dorme filhinho! dorme, dorme, « oó » ...
Dorme, minha alma canta-te cantigas,
Que ela é velhinha como a tua avó!
Nenhuma ama tem um pequenino
Tão bom, tão meigo: que feliz eu sou!
E tem tão bom dormir esse menino...
Deitou-se, ali caiu, ali ficou.
António Nobre
Só, pág.115
Europa-América