Acabei de ler
Stoner.
"Um dos grandes romances esquecidos do século passado." - Colum McCann
A história de William Stoner, um homem que nasceu para ser agricultor e continuar a actividade dos pais, mas que o acaso levou até à universidade, onde acabou por descobrir o poder dos livros. Foi neles que sempre se refugiou ao longo de uma vida, cujos acontecimentos, alegrias e tristezas, foi aceitando sempre, sem alaridos, vivendo-a com uma passividade desconcertante.
Stoner às vezes comove-nos, outras vezes irrita-nos com a sua passividade perante as situações. Ficamos felizes com o que de bom lhe acontece e tristes com as situações dramáticas às quais ele não reage, apenas aceita, com um conformismo desesperante para o leitor.
Simpatizei com Stoner tanto quanto antipatizei com Edith, a mulher que lhe foi roubando, com a sua permissão, tudo o que lhe trazia alguma felicidade.
Gostei muito deste romance, que me entusiasmou, como há muito não me entusiasmava a leitura de um livro.
"O Stoner do título é o protagonista deste romance - um obscuro professor de literatura, que até ao dia da sua morte dá aulas numa universidade do interior. A sua vida brevemente descrita nos dois primeiros parágrafos do romance, oferece um triste obituário. O que se segue, numa prosa precisa, despojada, quase cruel, é uma sucessão de fracassos de uma personagem que perde quase tudo - menos a entrega incondicional à literatura."
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"Na era da hipercomunicação, Stoner devolve-nos o sentido da intimidade, deixa-nos a sós com aquele homem tristonho, de vida apagada. Fechamos a porta e partilhamos com ele o empolgamento literário: sabendo, tal como ele, que nos restará sempre o consolo da literatura."
(Retirado da contracapa do livro)
"No verão de 1937, sentiu renovar-se a velha paixão pelo estudo e pelo saber, e com o curioso e incorpóreo vigor do estudioso, que não é condição nem da juventude nem da velhice, regressou à única vida que não o traíra. Descobriu que não se afastara muito dela, nem sequer no seu desespero." (pág.203)
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"Stoner tinha de admitir que se tornara, aos olhos dos leitores mais jovens e dos alunos mais velhos, que pareciam ir e vir antes de ele conseguir associar os nomes às caras, uma figura quase mítica, por mais instável e variada que fosse a função dessa figura." (pág.212)
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"...foi assolado por uma espécie de apatia, embora soubesse que era um sentimento composto por emoções tão profundas e intensas que não podiam ser reconhecidas, sob pena de não se poder viver com elas." (pág.225)
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"Depois, sorriu com ternura, como perante uma recordação. Pensou que tinha quase sessenta anos e que devia estar para lá da força de uma tal paixão, de um tal amor.
Mas não estava, sabia que não estava e que nunca estaria. Debaixo da dormência, da indiferença, do distanciamento, ali estava a paixão, intensa e firme; sempre ali estivera.
[...]
Olha! Estou vivo." (pág.231)