Da Série Capricho nº43 « O Sonho da Razão Produz Monstros »
Água-forte e água-tinta
Explicação desta estampa no manuscrito do Museu do Prado: A fantasia desligada da razão produz monstros impossíveis: aliada a ela, é a mãe das artes e a origem das maravilhas. | Manuscrito da Biblioteca Nacional: Capa desta obra: quando os homens não ouvem o grito da razão, tudo se converte em visões.
O sonho da razão
Goya recupera o género dos "sonhos", muito difundido na época medieval e retomado por Quevedo no séc.XVII. Concebia o produto da sua imaginação como sonhos que explicavam o absurdo e a irracionalidade do homem da sociedade a que pertencia, e pretendia dar exemplo e sólido testemunho da verdade. Mostra-nos uma sociedade que não se adapta aos novos tempos, à mercê de mentes obscurecidas e confundidas por falta de discernimento ou acaloradas devido a paixões desenfreadas. Através do sonho libertado da razão apresenta-nos todo o tipo de monstros e de animais que simbolizam o mal, os vícios humanos, a superstição, a bruxaria e a loucura de uma sociedade desgovernada.
Imagem e texto retirados do catálogo da exposição Francisco de Goya, Caprichos | Desastres da Guerra | Provérbios, que esteve patente ao público no Centro Cultural de Cascais de Junho a Setembro
Hino À Razão
Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.
Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,
Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Antero de Quental