Desejo Boas Festas a todos os visitantes e amigos do blogue.
Que 2024 seja um bom ano.
Tenho 41 anos de serviço, sempre a trabalhar com turma, com milhares de quilómetros de estrada (ou caminho-de-ferro) feitos e uma vida de trabalho praticamente sem nenhum atestado médico. Quando os precisei, à beira do esgotamento (ou depressão) para descansar da exaustão pelo trabalho escolar e por ser cuidadora de uma pessoa idosa, a minha médica de família não mos quis passar. Parecia que estava a pedir para ir de férias. No momento em que mais precisei de um médico (de família), falhou-me! Senti-me profundamente injustiçada!
Este ano lectivo pedi para ficar a dar apoio pedagógico, por ser um trabalho menos desgastante e com menos responsabilidade. Não me deixaram! Senti-me injustiçada!
Pronto! Não havendo nada a fazer, fiquei com a turma. Tenho 63 anos, estou no 42º ano de serviço e tenho um grupo de 24 alunos, com os problemas de uma turma que tem alunos imigrantes (além da portuguesa há mais três nacionalidades) e alunos com dificuldades de aprendizagem. Chego ao fim da semana de rastos!
Conto ansiosamente, por ordem decrescente, os dias que me faltam para pedir a reforma. Espero lá chegar...
Enfim! Isto foi um desabafo!
O que me vale, é que apesar do enorme cansaço, gosto de ser professora e gosto dos meus alunos. Ensino, converso, oiço, brinco, canso-me, zango-me, aprendo, explico, aconselho, escrevo, desenho, jogo, canto, ralho, ralho, ralho... mas os dias apesar de tudo, são bons. Preferia já está reformada? Claro!!! Mas, já que tenho que lá andar mais algum tempo, faço o melhor que posso (e o que a idade e o desgaste, de tantos anos de profissão, me permitem).
E depois, há pequenas recompensas...
Como este simpático recado, que sendo coisa pouca, revela muito, porque é genuíno.
Fui ver e gostei.
Demora cerca de três horas e meia, sem intervalo, mas não me aborreci nem um pouco. Segui toda a história com interesse.
Fui ver e gostei.
Tem um final inesperado...
Os últimos livros lidos ( faltam alguns infantis).
Embora de géneros muito diferentes, gostei de todos. O de Karl Ove Knausgärd que li com entusiasmo, desiludiu-me, um pouco, no final, porque esperava ver resolvidos alguns casos que não se resolveram. Ou seja: a vida é mesmo assim!
As provas de aferição no 2ºano já são por si só uma contradição no que é suposto ser o ensino, mas as provas de aferição realizadas online é uma ideia de quem não tem a mínima noção da realidade do ensino público. Verdade seja dita que quem dita as leis está-se nas tintas para a escola pública, porque os seus filhos e netos frequentam (de certeza) escolas particulares. Portanto: façam lá as provas de aferição online e estejam caladinhos que quem manda somos nós!
PARA SEMPRE
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
Antologia Poética, pág.206
Ontem, vi na televisão que o presidente do Brasil e a sua comitiva de setenta e tal pessoas vão ter à disposição 22 carros luxuosos, vão todos para um hotel luxuoso...banquetes, presentes e afins...quem paga tudo isto?...Não quiseram dizer! Pois não! Sabem que é desonesto!! É vergonhoso!!
Porque é que quando esta malta toda viaja, não paga as despesas do seu bolso? O que é que lhes dá o direito de andar a gastar os nossos impostos nos seus luxos?
Revolta-me, enoja-me ouvir as notícias...só gente doida a fazer loucuras e políticos malucos e desonestos a roubar e destruir o que é de todos, e não lhes pertence!
Milhões para políticos corruptos, milhões para a TAP e Banca e afins, prémios milionários para quem já ganha “milionariamente” para fazer BEM o seu trabalho (porquê prémios, com o nosso dinheiro; o dinheiro dos contribuintes?!!! O que lhes dá o direito de darem prémios a quem devia fazer bem o seu trabalho, pois já ganha MUITÍSSIMO BEM para o fazer?!!!), crimes que prescrevem e os corruptos ficam-se a rir às nossas custas, com os bolsos cheios...e milhões em subsídios para este e aquele e o outro não se sabe bem porquê…
Enquanto isso, não há dinheiro para pagar aos professores ( e outros) aquilo a que têm direito, nem há abono de família nem nenhum tipo de direitos para jovens famílias trabalhadoras que tem um ordenadito um pouco acima da média, nem a mínima possibilidade de ter casa, para um jovem que trabalha e ganha uma miséria de um ordenado mínimo, nem condições para uma vida digna para os velhinhos que trabalharam uma vida inteira…nem...nem...nem…
Os milhões vão para os bandidos e a gente honesta e trabalhadora continua a contar os tostões para conseguir sobreviver!
Não é justo, mas os bandidos ( de pistola ou de colarinho branco ) não têm vergonha na cara e dormem bem à noite sem necessidade de tranquilizantes, pois consciência, honestidade, integridade...são palavras que eles baniram há muito do seu vocabulário.
A personalidade homenageada no Catálogo nº 70 da Livraria Lumière é Manuel Poppe.
OUTONO NO JARDIM
Tomba a primeira folha como vida
que o tempo, irmão solícito, renova...
Cai pelo chão a hora povoada,
futura embora, som de fonte nova,
tristeza que a alegria perseguida
mata nos galhos, tão solicitada...
Perfeita comunhão de luz aberta
à outra comunhão, até ao fim
dos anos que são tempo e confiança
nesta existência de fadiga certa!
- Tomba a primeira folha no jardim
e em cada queda um coração descansa!...
Difícil Passagem, pág.34
António Salvado (1936-2023)
Mais dois presépios para a minha colecção. Ambos muito lindos e com pormenores originais.
A Revolta é em mim uma cidadania.
Não fui eu que me habituei à dor,
foi a dor que se tornou habitual.
Daniel Faria
A POESIA
Difícil, estreita passagem,
força quente perscrutada,
corpo de névoa, de imagem,
com sulcos de tatuagem,
voz absoluta escutada...
Destino de aranha, tece
com fios vários da vida,
alegria se amanhece
ou chora se a luz fenece
pela noite perseguida.
Intimidade exterior,
pureza de impuras formas,
conhecimento e amor,
água límpida, estertor,
sem regras feita de normas.
António Salvado, Difícil Passagem
Com uma bonita música, cantada por uma voz que não conhecia.
Tenho por aqui ,algures, outra versão desta música.
Estranho é o sono que não te devolve.
Como é estrangeiro o sossego
De quem não espera recado.
Essa sombra como é a alma
De quem já só por dentro se ilumina
E surpreende
E por fora é
Apenas peso de ser tarde. Como é
Amargo não poder guardar-te
Em chão mais próximo do coração.
Poesia, Daniel Faria, pág.78
Assírio & Alvim