terça-feira, 23 de agosto de 2011

Jorge Luís Borges

Ausência

Eu haverei de erguer a vasta vida
que ainda é o teu espelho:
cada manhã hei-de reconstruí-la.
Desde que te afastaste,
quantos lugares se tornaram vãos
e sem sentido, iguais
a luzes acesas de dia.
Tardes que te abrigaram a imagem,
música em que sempre me esperavas,
palavras desse tempo,
terei de as destruir com as minhas mãos.
Em que ribanceira esconderei a alma
pra que não veja a tua ausência,
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e sem piedade?
A tua ausência cerca-me
como a corda à garganta.
O mar ao que se afunda.


Retirado de Jorge Luís Borges, Obras Completas I, pág.39
Círculo de Leitores

                                                                            
(da net)
                                                                                                                                                       

8 comentários:

  1. gosto muito Belinha,

    Rita.

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  2. Ainda bem Ritinha.
    Está bem... também te empresto!!
    Beijinhos

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  3. Compreendo-te perfeitamente, mas tu sabes que a poesia traduzida sempre perde.E vou-te dizer um segredo: adoro a língua espanhola, há coisas impossíveis de traduzir sem que percam muito (igual que em português, claro)
    Deixo-te uns pensamentos de Borges que conheces de certeza, mas que quero dedicar-te esta manhã, porque me apetece...

    "Con el tiempo uno aprende la sutil diferencia entre sostener una mano o encadenar el alma.
    Con el tiempo uno planta su propio jardin y decora su propia alma, en lugar de esperar a que alguien le traiga flores, y uno aprende que realmente puede aguantar, que uno realmente es fuerte, que uno realmente vale, y uno aprende y aprende, y cada dia uno aprende".
    (Nueva Antología Personal)

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  4. Muito obrigada querida Maria
    lindo, lindo.
    Vou colocar num post, posso não posso?

    Amanhã vou colocar uma poesia de María Victoria Atencia( conheces?). Coloquei também o original em espanhol(o livro é uma edição bilingue)pensando em ti.Depois hás-de dizer-me se o último verso está bem traduzido.
    Um beijinho

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  5. Um poeta admirável. Um poema que toca a alma...
    Concordo com a Maria sobre a tradução, que na poesia é deveras complexa.

    Um beijo

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  6. Lindas poesias as duas. Traduzir é sempre difícil, quer dizer impossível, mas alguma coisa fica sempre. Basta que o autor seja profundo... Perde-se é a beleza da poesia em si, as "sfumature" como dizem os italianos (também esta ideia é impossível de traduzir).
    Beijos às duas...

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  7. Boa tarde Lídia
    têm razão quanto às traduções; eu que só leio português, porque não tenho conhecimentos suficientes para ler bem noutras línguas, às vezes apercebo-me de diferenças.Aí os tradutores também têm muita importância.

    Um abraço e obrigada pela visita

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  8. Boa tarde Maria João
    "sfumature" é uma palavra gira. O italiano é uma língua bonita.Tem música.
    Também gosto muito destas poesias.
    Beijinhos

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