sábado, 24 de setembro de 2011

Fernando Pessoa - Ansiedade

Ansiedade

Sonho, e estranhos poderes difusos
       Ajudam ao meu sonho iluminado;
Um som como o de chuva iminente
       Rasteja ao meu encontro, alto silvando;
E eis que todas as horas esquecidas
       Me cercam como uma névoa envolvente.

Os fantasmas dos meus perdidos eus
       Tecem à minha volta falsa malha;
Vagos elfos, meus sonhos insonhados,
       Fazem parte agora da minha carne;
E todo eu sou arquivos de sonhos
       De não-ser de mim distanciados.

Posso tocar as coisas impalpáveis,
       Sinto-me ao sol de passados dias;
Sons remotos como asas a voar,
       Rodeiam os caminhos do espírito;
E do outro lado da grande colina
       Um sino toca e chama p'ra rezar.

Mas eu estou cansado de sonhar,
       Cansado de ser eu mesmo sempre
Sobre espaços desertos de parecer,
       Jogador involuntário de um jogo
Com a vida, astro distante a brilhar
       Em terras mortas, sem um nome ter.


Poesia Inglesa (I), Fernando Pessoa, pág.175
Assírio & Alvim

                                                                            

Frida Kahlo
                                                                              

4 comentários:

  1. Tudo belo e do meu agrado! A árvore que nasce da cama e envolve Frida é a árvore da vida, a árvore que me maravilha como as árvores do bosque.
    Beijinhos e uma boa noite!

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  2. Ainda bem que gostaste Ana.Fico contente.
    E somos duas admiradoras da Frida.
    Um beijinho e bom fim-de-semana

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  3. Muito belo! Desta vez até gostei muito da Frida!
    O fernando Pessoa surpreende-nos sempre e é bom...
    beijos

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  4. Maria João
    com o tempo ainda há-de gostar MUITO da Frida. NÃO?
    Pronto. só um pouco mais...

    Também não lhe sei explicar porque gosto.

    Um beijinho grande

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