Oiça, vizinha: o melhor
É combinarmos o modo
De acabar com este amor
Que me toma o tempo todo.
Passo os meus dias a vê-la
Bordar ao pé da sacada.
Não me tiro da janela,
Não leio, não faço nada...
O seu trabalho é mais brando,
Não lhe prende o pensamento,
Vai conversando, bordando,
E acirrando o meu tormento...
O meu não: abro um artigo
De lei, mas nunca o acabo,
Pois dou de cara consigo
E mando as leis ao diabo.
Ao diabo mando as leis
Com excepção dum artigo:
O mil e cinquenta e seis...
Quer conhecê-lo? Eu lhe digo:
«Casamento é um contrato
Perpétuo». Este ajectivo
Transmuda o mais lindo pacto
No assunto mais repulsivo.
«Perpétuo». Repare bem
Que artigo cheio de puas.
Ainda se não fosse além
Duma semana ou de duas...
Olhe: tivesse eu mandato
De legislar e poria:
Casamento é um contrato
Duma hora - até um dia...
Mas não tenho. É pois melhor
Combinarmos algum modo
De acabar com este amor
Que me toma o tempo todo.
Augusto Gil, retirado de os poemas da minha vida, maria alzira seixo, pág.94/95
Uma edição do Público
Matisse
A Blusa Romena, 1940
Que poema fantástico!
ResponderEliminarLindo Isabel, como a tela de Matisse.
Beijinhos.
Descobri-o num desses livros do Público, que são uma espécie de colectâneas ( de preferências). Não o conhecia e achei bonito.
ResponderEliminarTem música e é airoso.
Agradou-me.
Beijinhos
Ainda bem que estão juntos, o poema e a tela, são incríveis. Amo esse tipo de escrita, me faz rir, pois é a mais pura verdade, simples e engraçada, real e que tantos tentam esconder. A tela por sua vez é isso mesmo, dá vontade de pegar o pincel e pintar - isso já fiz em meados de 96, minha última tela.
ResponderEliminarbjs meus e das 4 - todas amaram, foi bom vir aqui antes de dormir.
bjs querida Isabel e obrigada pelos versos.
Está muito engraçado. Afinal o autor da famosa Balada da Neve tinha muito sentido do humor e já então percebia que o casamento como contrato perpétuo era asfixiante, dava vontade de fugir...
ResponderEliminarMenos mal que isso já passou à história.
Feliz frio, eu ainda não acendi a chamine, aguento o mais possível, porque se começo já não a posso ver apagada, e a verdade é que dá trabalho, suja muito ...
Queridas amigas
ResponderEliminarespero então que tenha dormido bem.
Então pinta? Esse é mais um sonho adiado para a reforma. Gostava de experimentar, mas não tenho criatividade. Acredito que a criatividade também se aprende. Faço alguns trabalhos, mas pintar não.
Sabe uma coisa? Gostava de ver algum trabalho seu. Fica aqui a sugestão: um dia destes colocar alguma pintura no blogue...
Na verdade nunca sei bem com quem falo ( Elisa?)
5 beijinhos grandes
Querida Maria
ResponderEliminaractualizado não é?
Não conhecia este poema e é bem diferente da tristeza da Balada da Neve ( que sabia de cor na escola primária, e que apesar de tristíssimo, continuo a gostar).
O casamento...pois...
Aqui já chegou o frio. E esta terra é de extremos: um calor excessivo no Verão e um frio danado no Inverno e praticamente não temos meia estação. Passa-se dum extremo para o outro. Prefiro o Verão, mas gosto de estar à lareira e adoro mexericar no lume. Já a acendi esta semana. Suja muito, mas paciência...sabe bem!
Logo à noite vem até cá beber um cházinho...
Beijinhos
Muito bonito! parabéns!
ResponderEliminarIsabelamiga
ResponderEliminarJá tenho passado por cá, temos Amigas e Amigos comuns, mas hoje decidi dar-te os parabéns pela escolha destes versos do Augusto Gil, de quem muito se fala, mas quase sempre sobre o "batem leve, levemente, como quem chama por mim..."
Foi uma bela ideia, que te agradeço reconhecidamente.
E já agora; o belíssimo quadro do Matisse é "A Blusa Romena"; trouxe, das várias vezes em que estiva na Roménia umas quantas para oferecer. São lindas, como por certo saberás.
Espero-te na minha Travessa. Obrigado
Qjs = queijinhos = beijinhos
Boa tarde Maria João
ResponderEliminarmuito obrigada.Já tinha saudades suas.
Quer vir logo também tomar um cházinho ao calor da lareira?
Um beijinho grande
Olá Henrique
ResponderEliminarMuito obrigada por passar por aqui e pelas suas palavras.
Agradeço-lhe a correcção. Já emendei e errei por desconhecimento. O livro de onde digitalizei tem "Blusa Romana" até mais que uma vez porque conta uma pequena história (hei-de colocá-la no blogue). Faz parte duma colecção que tenho há uns anos, "Grandes Pintores do Século XX" e este é o volume sobre Matisse. Entretanto fui confirmar noutro (não duvidei do que me dizia, mas quis confirmar)e tem efectivamente "Blusa Romena" ("Os artistas falam de si próprios - Matisse").
Costumo ser cuidadosa e não gosto de colocar nada sobre que tenha dúvidas. Aqui, confiei no livro.
Muito obrigada. Não me apercebi.
Vou espreitar à sua Travessa, sim.
Beijinhos